Nas últimas décadas, vários estudos foram desenvolvidos e demonstraram que sobrepeso e obesidade estão associados a um maior risco de desenvolver alguns tipos de câncer. Um estudo realizado no Brasil pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de mama na pós-menopausa, o de cólon e reto, de útero, da vesícula biliar, do rim, fígado, ovário, próstata, mieloma múltiplo (células plasmáticas da medula óssea), esôfago, pâncreas, estômago e tireoide.
Mas como e por quê o excesso de peso podem estar relacionados a um maior risco de câncer? Nas pessoas com sobrepeso ou obesidade podem ocorrer alteração de 3 mecanismos que vão interferir diretamente nesse risco. Vamos entender como isso acontece.
Primeiramente, um dos mecanismos de formação de tumores é por proliferação celular através da insulina. Pacientes que estão acima do peso possuem maior resistência periférica à ação da insulina e por esse motivo os níveis desse hormônio se tornam cada vez maiores para conseguir exercer os mesmos efeitos quando comparado com pessoas com peso adequado.
Os níveis aumentados de insulina podem ativar esses mecanismos de proliferação celular e dar origem aos tumores.
Outro ponto muito importante e que nos últimos 2 anos ouvimos falar muito é que nas pessoas com obesidade ocorre uma inflamação generalizada de todo o organismo, o que pode estimular a formação de novos vasos sanguíneos, o que seria essencial para o crescimento do tumor.
Por fim, alguns tumores estão relacionados aos hormônios e alguns hormônios podem estar aumentados nas pessoas com obesidade.
Além disso, a obesidade é um fator de complicação para as pessoas que já possuem diagnóstico de câncer, dificultando seu tratamento e piorando prognóstico.
Dessa forma, fica evidente a necessidade de medidas de controle do excesso de peso, tendo em vista a vasta gama de comorbidades que a obesidade pode causar/piorar a evolução, incluindo vários tipos de câncer. Nesse sentido, é mandatório manter hábitos de vida saudáveis, com prática regular de atividade física e alimentação adequada, minimizando quantidade de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras e hipercalóricos, além de manter acompanhamento regular com médico especialista.
Como sempre ressalto para meus pacientes, obesidade é uma doença e assim deve ser tratada. Como qualquer outra doença pode ser necessário a utilização de medicamentos para seu controle. O tratamento adequado da obesidade melhora qualidade de vida do indíviduo, diminui risco cardiovascular e risco de desenvolver diversas doenças, incluindo tumores.